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segunda-feira, 23 de março de 2015

O terror em Neve


Há algo de interessante em contar sobre os receios do homem. O que será que nos faz recear por algo que nunca deparamos? Ter pesadelos no limiar da noite, e acordar assustadoramente como se tudo – acreditando no mundo espectral – fosse a mais simples realidade? 
 Estas perguntas, que receio em responder; porém, tenho a total e simples certeza, é que se por algum acaso, – não que isso me faça um cúmplice. Não, senhor, de novo não. É que se uma pessoa, sendo extremamente próxima a mim, descobrir o que houve comigo em uma das minhas congelantes viagens ao sul, é certo que ao final deste conto, esta pessoa 

estará habilitada a maldição perpetua.
Então, ocorro em relatar, ó caríssimo leitor – e digo isto o mais abertamente possível – se, por algum sórdido e tenebroso acaso, e que tenha em mente uma responsabilidade madura e vil de continuar lendo, pois eu não serei o culpado pelo teu castigo. Pois “Ele”, “Ele” sabe do que eu estou falando. E é melhor eu começar logo, antes que alguma coisa aconteça comigo novamente, e a todos que me cercam. Ah! Inclusive com você, que pela lógica, já está envolvido.
Afinal, como começar…? Assim, assim. Meu nome é Jonathan, e eu era de uma família mediana, e morávamos em Petrópolis, Rio de Janeiro. O clima era chuvoso e congelante, mais eu adorava me aconchegar em meus lençóis, e clima melhor do que esse não há. Não que eu detestasse o clima tropical de minha cidade. Para falar a verdade, nunca gostei muito de sol, penetrando em meus olhos, mas adorava quando eu e minha família íamos á praia, ou ao Jardim Botânico, que então me alegrava bastante.
Mas foi no ano de 1975, quando meu pai, um homem de semblante único, que tinha um bigodão negro que vinha até os lábios, e os cabelos loiros como o meu, decidira de uma hora para outra, como era de seu costume, visitar os meus avós maternos que viviam no sul deste país, e por aquela parte, o clima era dez vezes mais congelante donde eu morava, e melhor de tudo, lá nevava, e eu rezava muito para que assim que nos chegássemos logo me deparasse com os flocos macios caindo sobre minha cabeça. Tinha um grande sonho em fazer anjos na neve, guerra de bolinhas e o meu preferido, bonecos de neve.
Sendo assim, partimos logo quando minha mãe arrumara as malas. Era um dia de domingo. Alugamos um carro, e caíamos em alta estrada. Minha mãe, Denise, tinha uma beleza exuberante, que vinha desde sua adolescência, e não parecia que ela tinha toda aquela idade adulta. Seus cabelos eram ruivos, porém, tinha mechas castanhas nas pontas, que a deixava perfeitamente bela para com seus olhos azuis.
Depois de horas e mais horas de viajem, alugamos um quarto em um hotel chamado Os Castanheiros. Nosso quarto tinha uma pequena televisão, um pequeno frigobar e um banheiro ao lado. Passamos somente aquela noite para voltar a ativo ás seis em ponto da manhã, pois assim que meu pai gostava das coisas, e não valia a pena reclamar com ele, isto o deixava irritado. Então assenti com a cabeça e voltei-me o mais cedo possível para cama, até que o sol da janela se pôs sobre o meu rosto. Eu tinha acordado mais cedo, e meus pais, ainda na cama de casa ao lado, ressonavam sem parar, enquanto o alarme os despertou, e todos num instante puseram as roupas e arrumaram de novo as malas.
Eu dormi (de novo) quase a viajem inteira, pelo o que eu me lembre. Fui acordado pela mão de minha mãe, me remexendo sem parar, enquanto despertava de um sono sem sonhos.
- Vamos Jonathan. Chegamos. Ajude seu pai com as malas de trás, que eu ajudo com as da frente. 
Por esquecimento meu, minha mãe naquela época, estava grávida de oito meses, e era uma irmãzinha que eu esperava. Portanto, ela não podia carregar qualquer peso que a possibilitasse em carregar. Fiz o favor como um cavalheiro, e a ajudei com todas as malas e curvei-me para fora do carro.
A neve começava a cair sobre meus lábios, e eu pude senti-la escorregar pela minha pele. Era uma sensação que eu nunca havia sentido antes. Naquele ano, eu tinha entre 12-13 anos de idade; no entanto, senti que aquilo realmente havia mudado minha vida, de poder sentir a gélida neve caindo em meus lábios.
Minha avó, Melissa, veio em primeiro. Deu-me um carinhoso abraço, e apertou minhas bochechas até elas parecerem cascas de maça. Seus cabelos eram brancos como aquela neve, e os olhos azuis como os da minha mãe. Tinha uma pele macia e cheirava a sabão. Estava vestida com um lindo vestido azul marinho, e parecia que estava há muito por nossa espera.
Meu avô; isto é, Armando, vinha lentamente logo atrás, segurando uma bengala, que pelo seu punho, pude notar uma cruz dourada. Meu avô usava óculos redondos, uma boina verde e um paletó bem passado com listras azuis e vermelhas. Também tinha uma pele muito clara, e seus cabelos estavam passando do loiro para o branco. Aparentava ter oitenta, mais dizia ter sessenta.
Levei as malas junto com o meu pai, enquanto minha mãe ia logo á frente, conversando com minha avó que a segurava pelo braço.
Estava frio demais, então meu avô ascendeu à chaminé, enquanto meus pais contavam sobre suas viagens e assuntos que nem um pouco me interessavam.
Pela janela, avistei ao longe, perto de uma floresta densa, um boneco de neve incompleto, que por estar ali, alguém em súbita consciência o construiu e por algum motivo não o terminou.
Meu avô percebera meu interesse pelo boneco de neve, que eu via atentamente pela janela fora.
Ele se aproximou de mim e cochichou em meu ouvido, enquanto colocava sua estranha bengala de lado.
- Eu não iria lá se fosse você. – Disse ele com sua voz rouca causada pelo frio – Se é para se estar incompleto, é porque se deve estar incompleto.
Aquilo entrou na minha cabeça, e nunca desejei esquecer tanto o que ele me disse.
De noite, depois de jantarmos, decidimos dormir, enquanto minha avó arrumara alguns colchões e bons lençóis.
Eu deitado no meio dos meus pais, enquanto a barriga de minha mãe me acomodava atrás. Meu pai estava roncando rudemente sem parar em meu rosto, e isto tudo fez com que eu ficasse acordado, rodeando com uma lanterna a casa para cima e para baixo como um zumbi sem destino.
Aquele gume de neve ainda estava lá fora, há uns 6 metros mais ou menos donde eu estava logo enfrente da mata obscura e fechada.
Aproximei-me dele em pequenos passos rastejantes, enquanto um frio mortal raspava pelas minhas pernas. Ele só tinha as três bolas de neve uma sobre a outra.
Arrumei dois galhos que mais se pareciam com braços, e coloquei firmemente sobre ele. Achei por sorte, um ninho de pinheiro, onde utilizei para os olhos. Voltei até a casa e roubei no cabide da minha avó, um chapéu vermelho, e um cachecol verde que era de meu avô.
Estava quase pronto, até que… Lá estava ele, completo. Estava mais aliviado comigo mesmo, tudo estava bem. Dei as costas o boneco, mais um toque sombrio havia caído sobre meu ombro. Pensei que o galho que tinha utilizado para o braço havia despencado por acidente, mais foi apenas o inicio do horror dessa parte história.
Um poder sobrenatural tomou a forma de um boneco de neve. Ele jogou-me de cara com a neve e correu em direção a casa. Tentei persegui-lo mais meu corpo estava preso ao gelo.
Eu ouvi gritos apavorantes, vindos do quarto e da sala. O que ele estava fazendo?
Ouvi gritos vindos da minha mãe e de meu pai. Era surreal. Meus avos também gritavam, e só queria poder correr e ajuda-los dessa ameaça. Depois, o boneco ensopado de sangue, saiu da casa, rastejando até a floresta que existia em volta.
Finalmente, senti uma leveza em meu corpo, e já podia levantar. Corri mais do que podia até a casa. Meu coração acelerava até fazerem uma de minhas veias estourarem. A pulsação era demais naquele momento. Antes de entrar na sala, eu só podia escutar o silêncio do meu próprio corpo, num forte som agudo e irritante.
Uma lastra de sangue percorria do quarto até a sala, da sala até o quarto. Enquanto eu me encurvava para visualizar o que tinha dentro, uma mão começou a balançar meu ombro direito. Eu me virei, e estava eu lá, dentro do carro mais uma vez, enquanto minha mãe virada para mim disse:
- Vamos Jonathan. Chegamos. Ajude seu pai com as malas de trás, que eu ajudo com as da frente.

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